terça-feira, 30 de março de 2010

Only Lonely

"Another long and sleepless night
You need someone to hold you tight
Sometimes love does not know wrong from right
Another long and senseless
Fight was all you knew they're all the same
There's no one left to take the blame 


What's behind this masquerade
How do we win these losin'
Games we play, words we say
Cutting wounds we know they run so deep
Leave it all behind you
Or someday love will find you 



(...)I can't stop hurting you 
(...)but I can't stop loving you
(...)how much pain it takes



?
?
?"

domingo, 28 de março de 2010

sexta-feira, 26 de março de 2010

O Imperativo de Eros ou o Império de Tânatos?

Em tempestade, em terra ou em outro lugar nenhum...

acontece. E remete sempre ao mesmo ponto,

de um determinado ponto da infância primeira.

Não há como antever e nem predeterminar.

Os antigos gregos chamavam de tiquê,
nós mortais, sobreviventes do século XXI,
nomeamos esse buraco sem nome de Acaso ou Esmo.

[A - caso e Es - mo]

A rotina, o previsível é o Grego automaton.
Enquanto este aponta para a repetição sintomática,
como insistência dos signos comandada pelo princípio do prazer
(bom dia, Eros).
A tiquê indica esse encontro do Real,

que vige sempre por trás do automaton,
para além do princípio do prazer
(boa noite, Tânatos)

O mesmo continua porque é assim.

Sim, acontece pois simplemente acontece.
é a mesma coisa, só mudam as máscaras, os personagens e maquiagem:
Os atores são sempre os mesmos, desde o início da existência humana.

O esmo, desconhecido, vem para romper a mera ilusão de controle.
O buraco, o lapso vem como o inominável Imprevisível.

Se "a razão é medrosa", a repetição nos cega,
pois ela é cega em sua própria essência.

Tiquê cava uma cratera na Superficialidade.

Enlaça, exatamente aquilo que era intangível.
Une os paralelos no infinito.
Desvela a cegueira das insaciáveis repetições.


quarta-feira, 24 de março de 2010

Das Ding

"Liberdade é pouco. O que desejo ainda não tem nome."




*Clarisse Lispector

segunda-feira, 22 de março de 2010

Fala comigo... doce como a chuva


(...) Começa a chover. (...)


- Você voltou quando eu tinha saído para te procurar(...)
- Não podia telefonar(...)
- A única coisa que botei na boca desde que saiu foi café instantâneo, até que acabou, e água.(...)
- Fala comigo como a chuva e eu ficarei deitado aqui e ouvirei, eu ficarei...
- Eu quero ir embora(...) Sozinha,... me registrarei sob um nome falso num pequeno hotel da costa...
- Que nome?
- Anna - Jones...A arrumadeira será uma velhinha...que sempre me falará do neto.Eu sentarei em uma cadeira, enquanto ela fala do neto e arruma a cama. O quarto estará na penumbra, fresco e cheio do murmurio da...

- Chuva?

- Sim, chuva. Eu receberei um cheque...A velhinha trará livros e minha roupa lavada. Eu nunca serei forte, mas depois de um tempo terei energia suficiente para caminhar na calçada ,passear na praia...haverá uma estação de chuva
chuva...chuva...chuva...
Não me importarei de ficar ouvindo apenas a chuva...Não terei conciência da passagem do tempo...De vez em quando irei ao cinema...Lerei livros e os diários de escritores mortos. Essa minha amizade com poetas mortos será doce e refrescante, porque não terei que responder suas perguntas. Dormirei com o livro ainda entre os dedos e
choverá...
Acordarei e ouvirei a chuva, e voltarei a dormir.
Uma estação de chuva, chuva, chuva...
Então um dia, quando tiver fechado um livro ou voltado sozinha do cinema - Olharei no espelho e verei que meu cabelo ficou branco. Passarei a mão sobre meu corpo e sentirei o quanto fiquei leve e magra.
Oh, como estarei magra.Quase transparente. Quase irreal. Então saberei, de modo vago, que estava morando nesse quarto de hotel, sem nenhuma relação social, responsabilidade, ansiedades ou perturbações de qualquer tipo - por quase meio século. Nem sequer me lembrarei dos nomes das pessoas que conhecia antes, nem da sensação de ser alguém esperando por alguém que - talvéz não venha...Então saberei...que chegou o momento mais uma vez, de caminhar sozinha, com o vento forte batendo em mim, o vento limpo e branco que vem do princípio do mundo, ainda mais além do que isto, vem do princípio do espaço, ainda mais além de qualquer coisa que haja além do princípio do espaço...- Então sairei e andarei sozinha...e serei empurrada pelo vento e ficarei pequenina, pequenina.
- Amorzinho, vamos para a cama.
- Pequena, pequena, pequena, e mais pequenina e pequenina! - Até que finalmente não teria mais corpo e o vento viesse me tomar em seus braços brancos e refrescantes para sempre, e me levasse embora!
- Vamos para a cama!
- Quero ir embora. Quero ir embora(...)
- A luz pisca e ouve-se o vento frio...


- Vem para a cama. Vem para a cama, meu bem...




*Inspirado no texto de Tennese Willians

terça-feira, 16 de março de 2010

Vergänglichkeit - Sobre a Transitoriedade

" Não faz muito tempo empreendi, num dia de verão, uma caminhada através de campos sorridentes na companhia de um amigo taciturno e de um poeta jovem mais já famoso. O poeta admirava a beleza do cenário à nossa volta, mas não extraía disso qualquer alegria. Perturbava-o o pensamento de que toda aquela beleza estava fadada à extinção, de que desapareceria quando sobreviesse o inverno, como toda a beleza humana e toda a beleza e esplendor que os homens criaram ou poderão criar. Tudo aquilo que, em outra circunstância, ele teria amado e admirado, pareceu-lhe despojado de seu valor por estar fadado à transitoriedade.

A propensão de tudo que é belo e perfeito à decadência, pode, como sabemos, dar margem a dois impulsos diferentes na mente. Um leva ao penoso desalento sentido pelo jovem poeta, ao passo que o outro conduz à rebelião contra o fato consumado. Não! É impossível que toda essa beleza da Natureza e da Arte, do mundo de nossas sensações e do mundo externo, realmente venha a se desfazer em nada. Seria por demais insensato, por demais pretensioso acreditar nisso. De uma maneira ou de outra essa beleza deve ser capaz de persistir e de escapar a todos os poderes de destruição.

Mas essa exigência de imortalidade, por ser tão obviamente um produto dos nossos desejos, não pode reivindicar seu direito à realidade; o que é penoso pode, não obstante, ser verdadeiro. Não vi como discutir a transitoriedade de todas as coisas, nem pude insistir numa exceção em favor do que é belo e perfeito. Não deixei, porém, de discutir o ponto de vista pessimista do poeta de que a transitoriedade do que é belo implica uma perda de seu valor.

Pelo contrário, implica um aumento! O valor da transitoriedade é o valor da escassez no tempo. A limitação da possibilidade de uma fruição eleva o valor dessa fruição. Era incompreensível, declarei, que o pensamento sobre a transitoriedade da beleza interferisse na alegria que dela derivamos. Quanto à beleza da Natureza, cada vez que é destruída pelo inverno, retorna no ano seguinte, do modo que, em relação à duração de nossas vidas, ela pode de fato ser considerada eterna.

A beleza da forma e da face humana desaparece para sempre no decorrer de nossas próprias vidas; sua evanescência, porém, apenas lhes empresta renovado encanto. Um flor que dura apenas uma noite nem por isso nos parece menos bela. Tampouco posso compreender melhor por que a beleza e a perfeição de uma obra de arte ou de uma realização intelectual deveriam perder seu valor devido à sua limitação temporal. Realmente, talvez chegue o dia em que os quadros e estátuas que hoje admiramos venham a ficar reduzidos a pó, ou que nos possa suceder uma raça de homens que venha a não mais compreender as obras de nossos poetas e pensadores, ou talvez até mesmo sobrevenha uma era geológica na qual cesse toda vida animada sobre a Terra; visto, contudo, que o valor de toda essa beleza e perfeição é determinado somente por sua significação para nossa própria vida emocional, não precisa sobreviver a nós, independendo, portanto, da duração absoluta.


(...)"


* Freud, S. - Berlin: Novembro, 1915.

terça-feira, 9 de março de 2010

Estradas, pontes, viadutos e outros abandonos sem dor



Esperei por você a vida toda.
Carreguei esse fardo dentro de meu peito.
Calada... uma vez que não tinha muito o que falar.

Mas... confesso que falei, me embreaguei pra ver se você chegava mais rápido.
Escutei rifles de guitarra, solos de piano e desmaiei sobre os timbres dos acordeons...
Esperando você chegar, minha amada.
Seja bem vinda, majesté.

Agora vem, pode me levar.
E me lave antes,
essa sua inimiga, chamada Vida, me deixou imunda.
Não quero mais retornar ao meu leito e nem aos meus ofícios.
E nem ao delas.

Nesse 1/4 de século procurei por você todos os dias.
Aos 20, me disseram que não adiantava procurar-te.
Você me encontraria onde eu estivesse.


Esperei por você a vida toda.
Pra te acompanhar nesse tango que toca ao fundo dos meus ouvidos desde que vim ao mundo.

Esperei por você, para te conceder essa dança,
para bebermos conhaque
e para que você, finalmente,
me consumasse sobre esse piano de cauda.

Carreguei esse fardo em meus ossos a noite toda...
E em cada noite em claro... te esperei.
Você não vinha.
Rolava em minha cama, me esfregava em lençóis
e sentia a vulgaridade do meu sexo.

Agora você está aqui.
Estamos nos flertando.
Nos admirando intensamente, creio.
Seus olhos são negros e carregados de almas...

"Pode entrar" - te digo, com um sorriso fúnebre.
Você continua fitando minha pele, meus dentes, meus olhos e minhas unhas.

Continuo: "Estava aqui... justamente cavando minha cova, nosso leito, não é, mon amour?"

Você permanece de pé.
Sua esqualidez minha bambeia as pernas.
Me fragiliza.

E como num sopro, você me dá as costas e parte, sozinha.
Me abandona nessa estrada, cujo nome nós, mortais, demos de Vida.

Majestade Soberana, você se aproximou e não pronunciou sequer uma palavra.

Alguns dias depois chegou uma música pelo rádio.
Canção de um nobre compositor que você já levou.
Sabia que era você me anunciando:

"Ainda é cedo amor
Mal começaste a conhecer a vida
Já anuncias a hora da partida
Sem saber mesmo o rumo que iras tomar

Preste atenção querida
Embora eu saiba que estás resolvida
em cada esquina cai um pouco tua vida
Em pouco tempo não serás mais o que és

Ouça-me bem amor
Preste atenção o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos
Vai reduzir as ilusões à pó

Preste atenção querida
Em cada amor tu herdarás só o cinismo

Quando notares estás à beira do abismo
Abismo que cavastes com teus pés. "

Ainda aguardo seu retorno.


S.

sábado, 6 de março de 2010

Des - encontros

A vida é a arte do encontro, embora haja tantos desencontros nesta vida.




*Vinícius de Moraes

segunda-feira, 1 de março de 2010

O fim da Dama do Lotação

"(...) Apanhou um rosário, sentou-se perto da cama: aceitava a morte do marido como tal; e foi como viúva que rezou. Depois do que ela própria fazia nos lotações, nada mais a espantava. Passou a noite fazendo quarto. No dia seguinte, a mesma cena. E só saiu, à tarde, para sua escapada delirante, de lotação. Regressou horas depois. Retomou o rosário, sentou-se e continuou o velório do marido vivo."



*Nelson Rodrigues


Um Fado para suportar Um Fardo


Foi por vontade de Deus
Que eu vivo nesta ansiedade
Que todos os ais são meus
Que é toda minha saudade
Foi por vontade de Deus
Que estranha forma de vida
Vive este meu coração
Vive de vida perdida
Que lhe daria um cordão
Que estranha forma de vida
Coração independente
Coração que eu não comando
Vives perdido entre a gente
Teimosamente sangrando
Coração independente
Eu não te acompanho mais
Pára , deixa de bater
Se não sabes aonde vais
Por que teimas em correr ?
Eu não te acompanho mais


*Amália Rodrigues