segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Anônimas

"Virginia, Meu Eterno-único Amor,

sei que você continua passando noites e noites em claro em busca de um ponto de apoio que possa lhe responder pelo menos uma dessas tantas interrogações.
[ou para que pelo menos elas se tornem vírgulas, reticências, pontos de exclamação e pontos finais]
sei que depois de tantos anos desde a primeira vez que nos cruzamos naquela rua escura, depois daquele filme do Bergman no Paladium, você permanece em sua deliciosa, perigosa, kamikaze e tão sedutora Vida-de-montanha-russa.
sei que mesmo depois de ter se lançado mortalmente no Rio Ouse, você continua a ser atormentada pela mesmas interrogações. Seu corpo boiou por quase um mês...
Naquele marasmo de água-doce, você se reintegrou à Natureza. sei que aqueles dias foram os melhores de sua vida.
[de olhos bem fechados, entre-a-vida-e-a-morte]
Quando te achamos e fizemos nossos rituais de morte, para que pudéssemos de modo civilizado, simbolizar sua passagem, eu sei, meu amor, que a angústia amarga de seu âmago voltou a te assombrar, pois você simplesmente voltou a viver.
Virginia, minha mulher e esposa, sua falta de freio e os símbolos que tatuou em seu corpo-alma foram e sempre serão a alavanca de minha eterna admiração por você. A sua Magnitude etílica é digna de uma Rainha....
Ah minha querida, se conselho fosse bom, não seria dado, não é? Mas devo te dizer, já é tarde. Você já vagou demais.

É hora de voltar pra casa. Pros meus braços magros e meu peito branco de ossos frios e sobressalentes, que te jogarão para a realidade que tanto temes: a do dia-a-dia.

A-Guardo-te.

Sempre Seu,

Leonardo Woolf."

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